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Foto do escritorRafael Garcia

Atualizado: 27 de mai. de 2023

Por Leila Kiyomura


O sagrado na cerimônia do chá, a contemplação da natureza, o instante do haiku, a essência do Ma – ou vazio – são alguns dos muitos caminhos que o livro Conceitos Estéticos – Do Transtemporal ao Espacial na Arte Japonesa vai trilhando. E conduzindo o leitor entre as fronteiras e conexões de uma cultura milenar presente nas reflexões do contemporâneo. A edição é resultado das pesquisas desenvolvidas pelo Grupo de Estudos Arte Ásia (GEAA), formado por pesquisadores da USP e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e reúne artigos de professores, pesquisadores e estudantes de pós-graduação de nove instituições de pesquisa do Brasil e do exterior – USP, Unifesp, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), Universidade Federal Fluminense (UFF), Centro Universidade Belas Artes, Tokyo University of Arts e Kyoto University. O livro será lançado nesta sexta-feira, dia 16, às 15h30, no site do GEAA, onde ficará disponível para download gratuito.



Imagem ilustrativa

Como assinalam, na introdução, os organizadores do livro – os professores Atílio Avancini, Madalena Hashimoto Cordaro e Michiko Okano -, apesar de o Brasil reunir o maior número de descendentes fora do Japão e da significativa produção artística nipo-brasileira, a tradição e a trajetória da arte japonesa são pouco conhecidas e divulgadas.

“No programa de pós-graduação em Poéticas Visuais da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, o interesse em arte japonesa, em especial pela pintura, tem se manifestado em especificidades estéticas como a presença do vazio.”

Com o livro, o GEAA busca colaborar com a bibliografia de arte e cultura japonesa e ampliar o conhecimento entre o Brasil e o Japão.

Os 113 anos da imigração japonesa, comemorados no dia 18 de junho passado, fazem lembrar que os japoneses que ficaram de sol a sol entre as lavouras de café deixaram também um legado infinito na arte brasileira. Quando chovia no cafezal, Manabu Mabe aproveitava para pintar. E o tempo de Mabe, Tomoo Handa, Tsukika Okayama, Massao Okinaka e todos os pintores que chegaram antes da Segunda Guerra Mundial está na história da arte brasileira.

É a essência dessa história, com suas tradições e sutilezas muito além do horizonte brasileiro, que o GEAA começa a revelar. A abordagem de Conceitos Estéticos é uma referência para entender a arte que migra do Japão e atravessa o oceano sem abdicar do silêncio de suas paisagens.

“Parece-me haver uma lacuna nas universidades brasileiras de enfocar estudos de artes orientais como um todo”, observa Madalena Hashimoto Cordaro, artista visual e professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. “Nas duas últimas décadas, o interesse principal dos estudantes costuma vir através da difusão da chamada arte pop, ou seja mangá, anime j-horror, cosplay, daí se difundindo para maior amplitude.” A pesquisadora lembra que artistas japoneses de âmbito internacional vêm ocupando espaço em bienais e grandes mostras, como Takashi Murakami e Yayoi Kusama. “No programa de pós-graduação em Poéticas Visuais da ECA, o interesse em arte japonesa, em especial da pintura, tem se manifestado em especificidades estéticas como a presença do vazio, yohaku, do borrão de contornos da pintura preto-e-branco, de formatos tradicionais como livro-sanfona, biombo, estampa xilográfica, tatuagens e de novas mídias, em especial a fotografia.”

“Em matéria das tecnologias, bem como das artes, a história das relações entre o Japão e o Ocidente tem sido caracterizada por uma troca de cópias para ambos os lados.”

Conceitos Estéticos – Do Transtemporal ao Espacial na Arte Japonesa divide-se em três partes. Elementos Fundamentais da Espacialidade nas Artes Visuais Japonesas é aberta com a série Torii, do artista e professor da ECA Marco Giannotti. São quatro imagens em papel artesanal washi que estabelecem a fronteira entre o dentro e o fora, ou seja, o território divino e profano dos santuários xintoístas.

O Torii de Giannotti é a passagem para Erica Kobayashi apresentar a arte da cerimônia do chá. Jornalista pela ECA e mestre em Sociologia das Sociedades Contemporâneas pela Universidade de Paris, na França, ela mostra como elementos diversos fundamentados no budismo, xintoísmo e taoismo compõem a criação de um espaço-tempo próprio, em diálogo com o sagrado dentro de uma sala de chá. Os professores Madalena Hashimoto Cordaro e Herman Takasey, da Faap, escrevem sobre O Sistema Construtivo Japonês na Arquitetura. Plínio Ribeiro Júnior, jornalista e pesquisador da Universidade de Paris, aborda Figurações da Espacialidade Japonesa na Vida e na Obra de Wenceslau de Moraes. E Marco Giannotti mostra as Visões da Montanha, um artigo que traz as suas reflexões depois de ficar um ano, em 2011, lecionando na Universidade de Estudos Estrangeiros de Kyoto, no Japão.

“O Japão mudou totalmente minha maneira de ver o mundo, não mais pautada no etnocentrismo europeu”, diz Giannotti. “As montanhas perpassam nosso imaginário mundo afora: na Antiguidade clássica mítica, o monte Olimpo era considerado a moradia dos deuses. No Japão, o monte Fuji é visto como um kami, um espírito xintoísta.” Na segunda parte do livro, Conceitos Estéticos Transtemporais e Espaciais: a Tradição Cultural da Cópia e a Arte Contemporânea, as paisagens da série Hokusai nos Trópicos, de Madalena Hashimoto, conversam com os textos representando a contemporaneidade na arte. Participam: Atílio Avancini, professor da ECA, com Portal da Bossa Nova; Maria Ivette Job, mestre em Cultura Japonesa pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, destacando O Elemento Onírico na Poética de Shōji Ueda; Michiko Okano, professora da Unifesp, com o artigo Mono-ha: a Poética da Relação; Yuko Kuwahara, mestre e doutora pela Universidade Autônoma do México, versa sobre Tarô Amano e seu Foco na Arte da Década de 1990; e Rafael Mariano Garcia, doutorando da Unicamp, reflete sobre as formas teatrais centralizadas na catástrofe nuclear de Fukushima no artigo Corpos Contaminados, Corpos Fantasmas e Corpos Desobedientes.

Abre-se, nessa segunda parte, um questionamento sobre a tradição cultural da cópia. Para Avancini, que atuou como professor visitante da Kyoto University of Foreign Studies, o processo de aprendizagem no Japão baseado em “observação, imitação e constante repetição” é um método didático que gera o que chama de assimilação criativa. “Em matéria das tecnologias, bem como das artes, a história das relações entre o Japão e o Ocidente tem sido caracterizada por uma troca de cópias para ambos os lados”, comenta. “Quando ocorre o contato, desenvolve-se um convívio com adaptações, que faz com que um lado absorva o sistema do outro. É uma via de duas mãos, um enriquecimento cultural, um diálogo, e que sempre possa estar na direção do crescimento.”

A terceira e última parte do livro, Ma e Aida – Possibilidades da Cultura e Pensamento Japoneses, apresenta a série de fotos Quatro Tempos, de Atílio Avancini, que desperta o leitor para o movimento da natureza nas estações do ano. Os organizadores decidiram incluir textos resultantes do evento internacional homônimo realizado pelas Universidades de Estrasburgo e de Kyoto e pelo Centro Europeu de Estudos Japoneses da Alsácia. Participam Masakatsu Fujita, Professor Emérito da Universidade de Kyoyo, Wataru Kikuchi, professor de Literatura e Cultura Japonesa da FFLCH, Augustin Berque, filósofo e diretor de estudos na Écoles des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, e o poeta, artista e fotógrafo Gozo Yoshimazu, que encerra o livro com uma série de folhetos onde reúne poemas, traços, manchas, rasgos e colagens “como uma forma de purgar o colapso do gigantesco terremoto e tsunami de 2011”, segundo explicam os organizadores.

Madalena Hashimoto e Michiko Okano também estão presentes nessa terceira parte. Refletem sobre o significado do Ma, difícil de ser expresso como conceito, mas que pode ser atribuído ao espaço, tempo, distância, pausa, intervalo.

Certo é que o livro, lançado em plena pandemia, mostra a disposição do GEAA de compartilhar um trabalho que é fonte de conhecimento e extensão cultural. Criado em 2014, o GEAA é o primeiro grupo acadêmico do País a se dedicar ao estudo da arte asiática, especialmente a japonesa.

A última frase do prefácio de Conceitos Estéticos traz a sabedoria do escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986), que teve na vida e na literatura a referência oriental: “A vocação primeira do livro não é revelar, mas ajudar a descobrir”.

O livro Conceitos Estéticos – Do Transtemporal ao Espacial na Arte Japonesa, organizado por Atilio Avancini, Madalena Hashimoto Cordaro e Michiko Okano, será lançado nesta sexta-feira, dia 16, às 15h30, no site do Grupo de Estudos Arte Ásia (GEAA). Publicado pela Unifesp, o livro estará disponível para download gratuito no mesmo site após o evento de lançamento.


Baixe a versão digital aqui.


Fonte: Jornal da USP

Link: https://jornal.usp.br/cultura/livro-leva-a-reflexao-dos-conceitos-esteticos-da-arte-japonesa/


As reportagens publicadas nesta página são extraídas de terceiros e suas fontes e créditos são devidamente informadas. ​Os vídeos publicados nesta página foram extraídos da internet e estão protegidos por direitos autorais. ​As sinopses apresentadas têm como referência as edições digitais dos jornais citados disponíveis no dia.

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Atualizado: 27 de mai. de 2023

É com imensa satisfação que compartilho a minha dissertação de mestrado intitulada "O corpo na arte do taiko contemporâneo" (現代和太鼓の芸術における身体), recentemente publicada no Repositório da UNICAMP (http://repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/359543).


Gostaria de expressar minha gratidão aos meus queridos amigos, tanto os de longa data como os recentes, em especial ao meu orientador, Professor Eduardo Okamoto, um ator e mestre de uma generosidade imensa. Também quero agradecer de forma especial a todos os integrantes, pais e mães do grupo Hibiki Wadaiko, do qual tenho o maior prazer em fazer parte. Por último, gostaria de agradecer aos membros da banca examinadora, Ana Cristina Colla, Michiko Okano e Fernando Hashimoto, pela disponibilidade e pelas valiosas observações.


Por aqui, sigo nessa empreitada de descobertas, de dançar e viver tudo isso cada vez mais, pois a arte do taiko ainda não nasceu, está nascendo.


Domo Arigatō Gozaimashita



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Atualizado: 3 de mai. de 2021

Nesta quarta-feira, dia 24, das 19h às 21h, será realizada mais uma Oficina de Formação contemplada pela Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc (nº 14017/2020). A oficina “A arte do Taiko contemporâneo: a guerra, o corpo e os tambores japoneses” será ministrada pelo artista e pesquisador garcense, Rafael Garcia, que participou do edital Prêmio "Oswaldo Coelho". A inscrição é gratuita e termina amanhã, dia 23. Para garantir a sua vaga, basta acessar: https://forms.gle/ujZmMw2eU8ak4Rbf6


O objetivo da oficina é apresentar e introduzir, numa perspectiva histórica, a criação contemporânea do taiko no período Moderno (Kindai), especificamente a partir da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), em que a desempenho coletivo destes instrumentos ficou conhecido como kumi-daiko.


Nesse sentido, a oficina propõe um mergulho nas lacunas históricas do nascimento e desenvolvimento da arte dos tambores japoneses em meio aos conflitos e transformações no Japão entre as décadas de 1950 e 1970. Considera-se, neste debate: o Japão do pós-guerra, o surgimento dos movimentos de vanguarda nas artes japonesas e os primeiros grupos contemporâneos.


SERVIÇO:

INSCRIÇÕES: de 03 a 23 de março de 2021

CONFIRMAÇÃO DA OFICINA E DIVULGAÇÃO DO LINK por e-mail, 23 março de 2021 (verificar caixa de spam)

PLATAFORMA: Google Meet

DATA: 24 de março de 2021

HORÁRIO: das 19h às 21h

PLATAFORMA: Google Meet


Sobre Rafael Garcia

Rafael Garcia é ator, doutorando e mestre em Artes da Cena pela Universidade Estadual de Campinas (IA/UNICAMP) sob orientação do Profº Drº Eduardo Okamoto. É licenciado em Artes pela Faculdade Polis das Artes de São Paulo e bacharel em Artes Cênicas pela Universidade Estadual de Londrina (CECA/UEL).


Atua principalmente nos seguintes temas: artes, interpretação teatral e cultura japonesa. Em sua dissertação de mestrado, financiada pela CAPES, pesquisou a arte do taiko contemporâneo – conjunto de tambores de origem japonesa cuja performance envolve música e dança. Integrante do grupo de taiko Hibiki Wadaiko (Marília, SP), onde atua como tocador, produtor e colaborador artístico (desde 2016 até os dias de hoje). Atualmente é pesquisador do Grupo de Estudos Arte Ásia (GEAA), vinculado à Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP).


Sobre a Lei Federal Aldir Blanc

A Prefeitura de Garça, por meio da Secretaria Municipal da Cultura, fomentou a participação dos artistas garcenses. Foram realizados quatro chamamentos públicos, contemplando 25 projetos, com 25 contrapartidas para a população.


A Lei Federal de Emergência Cultural Aldir Blanc (Lei nº 14.017/2020) estabeleceu mecanismos e critérios para garantir apoio às trabalhadoras e trabalhadores da cultura e à manutenção de territórios/espaços culturais com atividades interrompidas por força da pandemia causada pelo novo coronavírus.


O site da Prefeitura de Garça disponibiliza uma aba - Lei Aldir Blanc - para transparência e visibilidade da implementação da Lei no município.


A Secult e o Conselho Municipal de Cultura participaram desde o início, produzindo inúmeras conferências virtuais e estabelecendo interlocução com fóruns regionais e instituições culturais da esfera nacional, cujo esforço conjunto e suprapartidário permitiu a concretização da necessária Lei, beneficiando mais de cinco mil municípios do Brasil em respeitabilidade aos trabalhadores e trabalhadoras da cultura.


As atividades culturais e criativas geram 2,64% do PIB brasileiro e são responsáveis por mais de um milhão de empregos formais diretos. Há no setor cerca de 250 mil empresas e instituições e que, junto a profissionais trabalhadores e trabalhadoras da Cultura, foram imensuravelmente prejudicadas neste período pandêmico.


Tais dados evidenciam a relevância do setor, de seus agentes e da necessidade da luta pela implantação da Lei.




Fonte: Portal Prefeitura de Garça


Link: https://www.garca.sp.gov.br/noticia/whatsapp-compartilha/4427/nesta-quarta-dia-24-tem-oficina-de-formacao-online-sobre-a-arte-do-taiko

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